Atenção sobre quem já foi alvo no passado tem de ser "redobrada", diz cientista político
Um ex-presidente da República que sofreu um impeachment e um
ex-presidente do Senado que renunciou para fugir da cassação devem ser
escolhidos para o papel de investigadores na CPMI (Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito), instalada na última quinta-(19), que tem o objetivo
de destrinchar a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e
funcionários públicos, entre eles o senador Demóstenes Torres (sem
partido-GO).
É que, mesmo tendo sido alvo de investigação no
passado, os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Renan Calheiros
(PMDB-AL) foram eleitos recentemente e são cotados para representar seus
partidos na comissão, formada por 30 parlamentares. Mas eles têm
condições de fazer o julgamento de alguém?
De acordo com o
professor de filosofia e ética política da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) Roberto Romano, esses senadores que já foram
investigados no passado têm o direito legal de julgar os colegas, mas os
olhares sobre a atuação deles devem ser redobrados.
- Ele tem
todo o direito legal de participar de CPIs e de comissões, já que o
mandato não é dele, é do povo que o elegeu. Agora, do ponto de vista da
ética, continua a mesma falta de legitimidade para operar nesses campos e
nesse juízo. Então, entre esse direito legal e a legitimidade para
definir padrões éticos e condenar colegas, há uma distância muito
grande. Então, é preciso dar uma atenção muito maior para a atuação
destes do que para a de outros .
Já para o diretor executivo
dda ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, a dúvida sobre a
atuação dos investigados, agora investigadores, tem uma resposta
"óbvia".
- É claro que não têm nenhuma . Como um sujeito que foi cassado por corrupção pode ser colocado para julgar alguma coisa?
Apesar de ter integrantes que já se envolveram em escândalos, o
resultado da CPMI não pode ficar manchado antes mesmo do início dos
trabalhos. No entanto, segundo Romano, a opinião pública pode levar em
conta o passado de um político para classificar o desempenho de uma CPI
no presente.
-Se o Collor agir de maneira prudente e rigorosa,
obedecendo a lei e as normas do Congresso, não há como dizer que a CPMI
ficou de alguma maneira manchada. Mesmo pessoas que cometeram erros no
passado podem cometer acertos presente. Agora o problema não está no
exercício do mandato, na sua plenitude; o problema está na opinião
pública e como a sociedade enxerga essa pessoa por causa do passado.
Isso levanta muitas perguntas sobre sua atuação.
O professor da
Unicamp também lembra que esse cenário não é exclusividade do Brasil.
Em outros países, políticos que já foram investigados se tornaram
investigadores algum tempo depois. O que, inclusive, pode voltar a
acontecer em alguns anos com o alvo da vez, Demóstenes Torres.
-
É um fenômeno internacional. Pegue o caso do Berlusconi com seus
partidários, que controlaram o parlamentar até o ano passado. Eles não
só investigaram e julgaram juízes e promotores, como fizeram uma série
de coisas para assegurar o poder. É muito comum que políticos que estão
afastados da vida pública retornem depois.
Fonte: R7.com
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