OBS: artigo de Psicologia.
Por Núccia Gaigher Magalhães
É fato que as drogas estão, há muito, presentes na
macro e micro sociedade, fazendo vítimas num número quase que incontável,
preocupando e assustando as autoridades pelo fato de que os usuários adentram
neste mundo cada vez mais cedo. A séria relação entre consumo de drogas e
agressividade tornou-se foco de vários estudos e pesquisas e embora o tema seja
vasto, ainda não se alcançou definitiva conclusão sobre o assunto. O presente
trabalho pretende então expor pontos observados em estudo sobre a “O Uso de
Drogas e a Violência na Adolescência”, apresentando definições e
características marcantes desta complexa fase do desenvolvimento humano, relacionando
com a temática em foco. Este trabalho foi desenvolvido pela equipe de
graduandos no 5º período do curso de Psicologia pela Faculdade Pitágoras, e
apresentado aos alunos durante o Seminário da Adolescência, sob a orientação da
Professora Mestre Ana Carolina Zeferino, que leciona a disciplina de Psicologia
do Desenvolvimento na referida instituição.
Palavras-Chave: adolescência, desenvolvimento
humano, família, sociedade, uso de drogas, violência.
INTRODUÇÃO
O presente relatório constitui documento formal da
Disciplina Psicologia do Desenvolvimento – Adolescência, do curso de Psicologia
da Faculdade Pitágoras do Vale do Aço, cujo objetivo é apresentar abordagens
teóricas e análise da adolescência, situações e desafios nos dias atuais,
focando em especial, a temática “drogas e violência na fase da adolescência”.
Este trabalho é altamente relevante, pois surge
como grande oportunidade neste processo de formação acadêmica, fortalecendo a
convicção quanto a profissão escolhida, facultando a ampliação do conhecimento
adquirido acerca da temática pesquisada para futura utilização já como
profissional desta área das Ciências Humanas.
A adolescência para ser melhor compreendida precisa
ser analisada sob tríplice aspecto a saber: biológico, social e psicológico. É
um período de intensas transformações experienciadas pelo ser humano neste
processo de desenvolvimento, de amadurecimento. E cada indivíduo vive esta fase
de uma forma que lhe é própria, embora algumas mudanças sejam universais como a
menarca, nas meninas e a ejaculação, nos meninos. Como se não bastassem as
mudanças inevitáveis no campo fisiológico, mudanças igualmente sérias ocorrem
em outros setores de sua vida e a forma como vivencia cada experiência define
determinados comportamentos que vão do que se é esperado dentro do padrão de
normalidade, até os inadequados que revelam transtornos de conduta, provocando
desconforto geral no trato familiar e com a sociedade.
Muitas características e desafios surgem no
percurso desta fase, exigindo do adolescente algumas decisões que refletirão no
seu estilo de vida, na relação sociocultural. Um difícil processo que objetiva
fazer com que o jovem saiba quem é na verdade, qual seu papel no meio social em
que se encontra inserido; é rever todo aprendizado para formular sua
identidade, sua personalidade.
Conceituando a Adolescência
Segundo Housaiss (2001), a palavra adolescência tem
origem no verbo latim adolescere, que significa crescer, ou crescer até
a maturidade, resultando em transformações de ordem social, psicológica e
fisiológica.
A OMS – Organização Mundial da Saúde, define a
adolescência como período que vai, precisamente dos 10 anos aos 19 anos,
11meses e 29 dias (Friedman, 1985).
Adolescência é enfim, uma fase de preparação para a
vida adulta, envolta em períodos alternados de certezas e incertezas, de
turbulências, prazer e dor, conflitos e construções, formulação e reformulação
de conceitos até que se conquiste a própria identidade.
Características da Fase
Até que se estabeleça a identidade pessoal, o jovem
apresenta comportamentos tão diversos que não raras vezes são confundidos com
transtornos mentais. A grande questão é entender os limites entre o “normal” e
o “psicopatológico”. O conhecimento das características da personalidade e
conduta ajuda a identificar melhor a fronteira entre um e outro.
Para este estudo foram selecionadas algumas das
características baseadas na descrição de Maurício Knobel (1991), para uma
adolescência normal:
- Busca de si mesmo e da identidade
- Tendência grupal
- Necessidade de intelectualizar e fantasiar
- Crises religiosas (questionamentos)
- Deslocalização temporal (Vivência do tempo)
- Evolução sexual manifesta
- Atividade social reivindicatória
- Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta
- Separação progressiva dos pais
- Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo
O psicanalista Erik Erikson acreditava que a maior
tarefa da adolescência seria o desenvolvimento da identidade e denominou a
maior crise da adolescência como sendo a crise da identidade, ocorrendo nesta
fase da vida para que o jovem pudesse estabelecer a diretriz que nortearia seus
passos na vida adulta. (ATKINSON, 2002)
A palavra crise vem do grego krisis que significa
decidir, escolher; é então uma fase de muitas escolhas e definições provocando
grandes confusões e perca de referências em algumas situações.
A formação da identidade do adolescente engloba uma
série de fatores como a imagem que ele próprio faz de si, a escolha da
profissão, a orientação sexual, valores morais e os compromissos sociais.
Família e o Adolescente
Outro fator que merece destaque é a separação
progressiva dos pais que começa com a rejeição do que antes era valorizado, e
talvez este seja para os pais o ponto culminante gerador de grandes conflitos e
tensões, pois é difícil para os pais entender que a rebeldia tem significado
importante e que também está dentro do padrão considerado “normal” vivenciado
pelos jovens nesta busca incessante do seu próprio Eu, o que não significa que
os eles, os pais, devam ser omissos e permissivos quando se perceba a
ultrapassagem de limites.
O papel da família é proporcionar autonomia para o
jovem experimentar outros papéis, desenvolvendo condições de tomar suas
próprias decisões, de se tornar independente e responder por esta
independência. A chave para o sucesso então é a flexibilidade, não sendo tão
radical e nem tão permissivo. Muitos questionamentos e críticas surgirão por
parte dos filhos ou dos pais, tornando tensa a relação familiar, mas o
importante é que se ofereça ao jovem uma base estrutural fortalecida na certeza
da existência de laços afetivos concretos.
O jovem então se desvencilha naturalmente dos laços
da família na tentativa de criar laços sociais e neste momento ocorre o
encontro e formação de grupos que expressem necessidades semelhantes, onde
possam se expressar livremente; é a busca pela independência, pela autonomia. A
família presente e estruturada afetivamente serve como preventivo contra a
ligação dos jovens com as chamadas “más companhias”.
Por que os adolescentes usam
drogas?
Vários são as hipóteses para este questionamento,
não há um motivo isolado, determinante. Alguns estudos apontam que esse período
em que o jovem começa a definir amizades acaba tornando-se mais facilmente
manipulável, pelos grupos ou pela mídia e então, há forte risco de contato com
substâncias químicas, drogas lícitas ou ilícitas; os grupos costumam pressionar
o jovem para aceitar iniciar o consumo no intuito de que “seja um dos seus”.
Muitos crêem erroneamente que seu uso oferecerá algum tipo de status no meio de
convivência.
A mídia fortalece bem esta idéia ao apresentar de
forma glamorosa as campanhas publicitárias explícitas ou subliminares sobre o
consumo destas substâncias. O acesso fácil, aliado à curiosidade são algumas
das explicações para esse fato.
Mas o ponto mais importante seria a ausência da
estrutura familiar. Se a criança cresce num ambiente emocionalmente
estruturado, mesmo que ocorram os conflitos característicos da fase de
transição, as amizades não oferecerão tantos riscos. Ao contrário, na
inexistência de vínculo afetivo, ambiente familiar problemático onde a falta de
interesse por parte dos pais é explicitamente sentida pelo jovem, aí então,
fragilizado, este corre grande risco de se envolver com drogas para aplacar o
sentimento de inferioridade, de desamor, de descuido.
O uso de drogas é para muitos, uma forma de
denunciar o abandono, a necessidade de mudanças. É a válvula de escape para
suas frustrações.
Atualmente torna-se cada vez mais fácil a obtenção de drogas em qualquer idade. Maconha, cigarro e álcool são as mais utilizadas, embora o crack também esteja agora também fazendo parte deste contexto, sendo inclusive, misturado à maconha para que a dependência ocorra mais rapidamente.
Atualmente torna-se cada vez mais fácil a obtenção de drogas em qualquer idade. Maconha, cigarro e álcool são as mais utilizadas, embora o crack também esteja agora também fazendo parte deste contexto, sendo inclusive, misturado à maconha para que a dependência ocorra mais rapidamente.
As drogas modificam as funções cerebrais, atenuando
o sofrimento psíquico e proporcionando certo prazer e são essas sensações que
os usuários buscam a cada novo contato. Mas os resultados destas “viagens” vão
mais além do perceptível; o consumo constante prejudica o funcionamento
neuronal, modificando o desempenho das funções cerebrais e aos poucos os sinais
do desgaste provocado deliberadamente passam a ser percebidos de forma mais
evidentes.
Portanto, no intuito de atenuar problemas
específicos como insegurança, stress, baixa auto estima, sentimentos de
rejeição e outras dificuldades, o jovem percorre este difícil caminho para o
vício.
A violência
A violência é um efeito de toda causa acima citada
e isso não coloca o ponto final nas hipóteses, mas o dependente químico
torna-se grande causador de acidentes, suicídios e assassinatos.
Nunca se viu uma onda tão forte de criminalidade
como na juventude de agora. Tudo e nada passam a ser motivos sérios para provocações
que tendem a culminar em dolorosas tragédias.
A convivência fica praticamente impossível até
mesmo dentro dos próprios núcleos familiares e aí então é momento de pedir
ajuda...
O tratamento
A família de forma geral é acolhida nos programas
de reabilitação, uma vez que em seu seio está toda fonte geradora do problema
que se vivencia.
Tratar então da família é tratar do dependente
químico. E o hoje são muitos os grupos de apoios e clínicas especializadas
neste processo de reabilitação social.
Programas preventivos são criados como forma de
esclarecer crianças e adolescentes quanto ao risco camuflado no mundo das
drogas.
O PROERD, Programa Educacional de Resistência às
Drogas, é a versão brasileira do programa surgido em 1983 nos Estados Unidos. O
programa consiste numa ação conjunta entre o Policial Militar, Escola e
Família, no sentido de prevenir e reduzir o consumo de substâncias lícitas e/ou
ilícitas.
No Vale do Aço, em Ipatinga – MG, a gestora do
projeto neste ano de 2008 é a Sargento Monica Oliveira do 14º Batalhão da
Polícia Militar de Minas Gerais. O policial capacitado para exercício da
orientação educacional lida com crianças da 4ª e 6ª séries, além da família e
escola. O manual oferecido ao aluno é estudado semanalmente, são 9 lições,
portanto, 9 semanas de ação conjunta em prol da saúde da família, conforme
narrou a Sargento Mônica, convidada para participação especial no Seminário da
Adolescência.
Esta equipe conheceu também o grupo de apoio AMOR
EXIGENTE, coordenado, aqui em Ipatinga, por Maria da Conceição, adepta a quase
vinte anos, e que também nos honrou com a visita ao Seminário da Adolescência.
O AMOR EXIGENTE, segundo Maria da Conceição, surgiu
nos Estados Unidos na década de 70, como um movimento liderado por um pai que
viu suas três filhas envolvidas no mundo das drogas. O grupo de ação foi aos
poucos ganhando apoio de outros pais que se identificavam com o programa.
O grupo de apoio realiza seu trabalho baseado em princípios básicos, fundamentados em princípios éticos e visam ajudar a família já machucada pelo comportamento doentio de algum dos seus membros.
O grupo de apoio realiza seu trabalho baseado em princípios básicos, fundamentados em princípios éticos e visam ajudar a família já machucada pelo comportamento doentio de algum dos seus membros.
CONCLUSÃO
A adolescência é um período muito complexo pelo
qual cada indivíduo passa de forma diferenciada, embora algumas mudanças sejam
universais. O período de transição pode ser sentido de forma educativa
promovendo o fortalecimento dos laços afetivos quando a família possui certa
estrutura emocional a ser oferecida ao seu jovem; porém quando a família
apresenta-se desestruturada, os vínculos, já fragilizados, rompem-se facilmente
proporcionando possibilidades de internalização de traumas que poderão servir
como desculpas para ligação com grupos de conduta questionável, inadequada e a
entrada no mundo das drogas ganha maior campo.
Vive-se hoje numa sociedade onde o ter é
extremamente valorizado, impelindo consumismo exagerado. O grupo não deixa de
exercer influência no comportamento do jovem, sendo esta pressão maior ou
menor, conforme valores internalizados por ele. Muitos sucumbem à pressão recebida
e por influência destes, abaixa a guarda e se permite viver perigosas
experiências, como por exemplo, conhecer o mundo das substâncias químicas que
alteram o funcionamento neuronal, tudo isso em busca do preenchimento do vácuo
existente em si mesmos.
O consumo de drogas é um dos maiores problemas
sociais e culturais do nosso tempo, não se pode olvidar desta verdade. E dentre
os fatores que facilitam sua ligação estão as questões genéticas, familiar, de
valores e crenças sociais. Lidar com conflitos e frustrações num período tão
delicado como a adolescência é uma difícil tarefa a ser desempenhada.
Atualmente vários programas preventivos/educativos
e comportamentais, surgem para ajudar a sociedade a compreender como lidar com
esta problemática. Auxiliam também a família que já conhece esta dura realidade
que é ter um ente em contato com o vício.
Conclui-se, portanto, que a família desempenha
papel crucial como base da macro sociedade e dessa responsabilidade não pode se
esquivar, para que não veja comprometida o seu próprio núcleo familiar.
Influenciamos e somos influenciados a todo instante por nossas atitudes, ações
ou omissões. Nossas ações precisam refletir maior equilíbrio, valorizando a
ética e a moral no seio familiar para que seus membros vivencie tais valores
porta à fora do lar que os acolhe.
Extraído em: Psicologado
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