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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Uso de Drogas e Violência na Adolescência


OBS: artigo de Psicologia.

 Por  Núccia Gaigher Magalhães

É fato que as drogas estão, há muito, presentes na macro e micro sociedade, fazendo vítimas num número quase que incontável, preocupando e assustando as autoridades pelo fato de que os usuários adentram neste mundo cada vez mais cedo. A séria relação entre consumo de drogas e agressividade tornou-se foco de vários estudos e pesquisas e embora o tema seja vasto, ainda não se alcançou definitiva conclusão sobre o assunto. O presente trabalho pretende então expor pontos observados em estudo sobre a “O Uso de Drogas e a Violência na Adolescência”, apresentando definições e características marcantes desta complexa fase do desenvolvimento humano, relacionando com a temática em foco. Este trabalho foi desenvolvido pela equipe de graduandos no 5º período do curso de Psicologia pela Faculdade Pitágoras, e apresentado aos alunos durante o Seminário da Adolescência, sob a orientação da Professora Mestre Ana Carolina Zeferino, que leciona a disciplina de Psicologia do Desenvolvimento na referida instituição.
Palavras-Chave: adolescência, desenvolvimento humano, família, sociedade, uso de drogas, violência.


INTRODUÇÃO


O presente relatório constitui documento formal da Disciplina Psicologia do Desenvolvimento – Adolescência, do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras do Vale do Aço, cujo objetivo é apresentar abordagens teóricas e análise da adolescência, situações e desafios nos dias atuais, focando em especial, a temática “drogas e violência na fase da adolescência”.
Este trabalho é altamente relevante, pois surge como grande oportunidade neste processo de formação acadêmica, fortalecendo a convicção quanto a profissão escolhida, facultando a ampliação do conhecimento adquirido acerca da temática pesquisada para futura utilização já como profissional desta área das Ciências Humanas.
A adolescência para ser melhor compreendida precisa ser analisada sob tríplice aspecto a saber: biológico, social e psicológico. É um período de intensas transformações experienciadas pelo ser humano neste processo de desenvolvimento, de amadurecimento. E cada indivíduo vive esta fase de uma forma que lhe é própria, embora algumas mudanças sejam universais como a menarca, nas meninas e a ejaculação, nos meninos. Como se não bastassem as mudanças inevitáveis no campo fisiológico, mudanças igualmente sérias ocorrem em outros setores de sua vida e a forma como vivencia cada experiência define determinados comportamentos que vão do que se é esperado dentro do padrão de normalidade, até os inadequados que revelam transtornos de conduta, provocando desconforto geral no trato familiar e com a sociedade.
Muitas características e desafios surgem no percurso desta fase, exigindo do adolescente algumas decisões que refletirão no seu estilo de vida, na relação sociocultural. Um difícil processo que objetiva fazer com que o jovem saiba quem é na verdade, qual seu papel no meio social em que se encontra inserido; é rever todo aprendizado para formular sua identidade, sua personalidade.


Conceituando a Adolescência


Segundo Housaiss (2001), a palavra adolescência tem origem no verbo latim adolescere, que significa crescer, ou crescer até a maturidade, resultando em transformações de ordem social, psicológica e fisiológica.
A OMS – Organização Mundial da Saúde, define a adolescência como período que vai, precisamente dos 10 anos aos 19 anos, 11meses e 29 dias (Friedman, 1985).
Adolescência é enfim, uma fase de preparação para a vida adulta, envolta em períodos alternados de certezas e incertezas, de turbulências, prazer e dor, conflitos e construções, formulação e reformulação de conceitos até que se conquiste a própria identidade.

Características da Fase

Até que se estabeleça a identidade pessoal, o jovem apresenta comportamentos tão diversos que não raras vezes são confundidos com transtornos mentais. A grande questão é entender os limites entre o “normal” e o “psicopatológico”. O conhecimento das características da personalidade e conduta ajuda a identificar melhor a fronteira entre um e outro.
Para este estudo foram selecionadas algumas das características baseadas na descrição de Maurício Knobel (1991), para uma adolescência normal:
  • Busca de si mesmo e da identidade
  • Tendência grupal
  • Necessidade de intelectualizar e fantasiar
  • Crises religiosas (questionamentos)
  • Deslocalização temporal (Vivência do tempo)
  • Evolução sexual manifesta
  • Atividade social reivindicatória
  • Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta
  • Separação progressiva dos pais
  • Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo
O psicanalista Erik Erikson acreditava que a maior tarefa da adolescência seria o desenvolvimento da identidade e denominou a maior crise da adolescência como sendo a crise da identidade, ocorrendo nesta fase da vida para que o jovem pudesse estabelecer a diretriz que nortearia seus passos na vida adulta. (ATKINSON, 2002)
A palavra crise vem do grego krisis que significa decidir, escolher; é então uma fase de muitas escolhas e definições provocando grandes confusões e perca de referências em algumas situações.
A formação da identidade do adolescente engloba uma série de fatores como a imagem que ele próprio faz de si, a escolha da profissão, a orientação sexual, valores morais e os compromissos sociais. 


Família e o Adolescente


Outro fator que merece destaque é a separação progressiva dos pais que começa com a rejeição do que antes era valorizado, e talvez este seja para os pais o ponto culminante gerador de grandes conflitos e tensões, pois é difícil para os pais entender que a rebeldia tem significado importante e que também está dentro do padrão considerado “normal” vivenciado pelos jovens nesta busca incessante do seu próprio Eu, o que não significa que os eles, os pais, devam ser omissos e permissivos quando se perceba a ultrapassagem de limites.
O papel da família é proporcionar autonomia para o jovem experimentar outros papéis, desenvolvendo condições de tomar suas próprias decisões, de se tornar independente e responder por esta independência. A chave para o sucesso então é a flexibilidade, não sendo tão radical e nem tão permissivo. Muitos questionamentos e críticas surgirão por parte dos filhos ou dos pais, tornando tensa a relação familiar, mas o importante é que se ofereça ao jovem uma base estrutural fortalecida na certeza da existência de laços afetivos concretos.
O jovem então se desvencilha naturalmente dos laços da família na tentativa de criar laços sociais e neste momento ocorre o encontro e formação de grupos que expressem necessidades semelhantes, onde possam se expressar livremente; é a busca pela independência, pela autonomia. A família presente e estruturada afetivamente serve como preventivo contra a ligação dos jovens com as chamadas “más companhias”.


Por que os adolescentes usam drogas?


Vários são as hipóteses para este questionamento, não há um motivo isolado, determinante. Alguns estudos apontam que esse período em que o jovem começa a definir amizades acaba tornando-se mais facilmente manipulável, pelos grupos ou pela mídia e então, há forte risco de contato com substâncias químicas, drogas lícitas ou ilícitas; os grupos costumam pressionar o jovem para aceitar iniciar o consumo no intuito de que “seja um dos seus”. Muitos crêem erroneamente que seu uso oferecerá algum tipo de status no meio de convivência.
A mídia fortalece bem esta idéia ao apresentar de forma glamorosa as campanhas publicitárias explícitas ou subliminares sobre o consumo destas substâncias. O acesso fácil, aliado à curiosidade são algumas das explicações para esse fato.
Mas o ponto mais importante seria a ausência da estrutura familiar. Se a criança cresce num ambiente emocionalmente estruturado, mesmo que ocorram os conflitos característicos da fase de transição, as amizades não oferecerão tantos riscos. Ao contrário, na inexistência de vínculo afetivo, ambiente familiar problemático onde a falta de interesse por parte dos pais é explicitamente sentida pelo jovem, aí então, fragilizado, este corre grande risco de se envolver com drogas para aplacar o sentimento de inferioridade, de desamor, de descuido.
O uso de drogas é para muitos, uma forma de denunciar o abandono, a necessidade de mudanças. É a válvula de escape para suas frustrações.
Atualmente torna-se cada vez mais fácil a obtenção de drogas em qualquer idade. Maconha, cigarro e álcool são as mais utilizadas, embora o crack também esteja agora também fazendo parte deste contexto, sendo inclusive, misturado à maconha para que a dependência ocorra mais rapidamente.
As drogas modificam as funções cerebrais, atenuando o sofrimento psíquico e proporcionando certo prazer e são essas sensações que os usuários buscam a cada novo contato. Mas os resultados destas “viagens” vão mais além do perceptível; o consumo constante prejudica o funcionamento neuronal, modificando o desempenho das funções cerebrais e aos poucos os sinais do desgaste provocado deliberadamente passam a ser percebidos de forma mais evidentes.
Portanto, no intuito de atenuar problemas específicos como insegurança, stress, baixa auto estima, sentimentos de rejeição e outras dificuldades, o jovem percorre este difícil caminho para o vício. 


A violência


A violência é um efeito de toda causa acima citada e isso não coloca o ponto final nas hipóteses, mas o dependente químico torna-se grande causador de acidentes, suicídios e assassinatos.
Nunca se viu uma onda tão forte de criminalidade como na juventude de agora. Tudo e nada passam a ser motivos sérios para provocações que tendem a culminar em dolorosas tragédias.
A convivência fica praticamente impossível até mesmo dentro dos próprios núcleos familiares e aí então é momento de pedir ajuda...


O tratamento


A família de forma geral é acolhida nos programas de reabilitação, uma vez que em seu seio está toda fonte geradora do problema que se vivencia.
Tratar então da família é tratar do dependente químico. E o hoje são muitos os grupos de apoios e clínicas especializadas neste processo de reabilitação social.
Programas preventivos são criados como forma de esclarecer crianças e adolescentes quanto ao risco camuflado no mundo das drogas.
O PROERD, Programa Educacional de Resistência às Drogas, é a versão brasileira do programa surgido em 1983 nos Estados Unidos. O programa consiste numa ação conjunta entre o Policial Militar, Escola e Família, no sentido de prevenir e reduzir o consumo de substâncias lícitas e/ou ilícitas.
No Vale do Aço, em Ipatinga – MG, a gestora do projeto neste ano de 2008 é a Sargento Monica Oliveira do 14º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais. O policial capacitado para exercício da orientação educacional lida com crianças da 4ª e 6ª séries, além da família e escola. O manual oferecido ao aluno é estudado semanalmente, são 9 lições, portanto, 9 semanas de ação conjunta em prol da saúde da família, conforme narrou a Sargento Mônica, convidada para participação especial no Seminário da Adolescência.
Esta equipe conheceu também o grupo de apoio AMOR EXIGENTE, coordenado, aqui em Ipatinga, por Maria da Conceição, adepta a quase vinte anos, e que também nos honrou com a visita ao Seminário da Adolescência.
O AMOR EXIGENTE, segundo Maria da Conceição, surgiu nos Estados Unidos na década de 70, como um movimento liderado por um pai que viu suas três filhas envolvidas no mundo das drogas. O grupo de ação foi aos poucos ganhando apoio de outros pais que se identificavam com o programa.
O grupo de apoio realiza seu trabalho baseado em  princípios básicos, fundamentados em princípios éticos e visam ajudar a família já machucada pelo comportamento doentio de algum dos seus membros.


CONCLUSÃO


A adolescência é um período muito complexo pelo qual cada indivíduo passa de forma diferenciada, embora algumas mudanças sejam universais. O período de transição pode ser sentido de forma educativa promovendo o fortalecimento dos laços afetivos quando a família possui certa estrutura emocional a ser oferecida ao seu jovem; porém quando a família apresenta-se desestruturada, os vínculos, já fragilizados, rompem-se facilmente proporcionando possibilidades de internalização de traumas que poderão servir como desculpas para ligação com grupos de conduta questionável, inadequada e a entrada no mundo das drogas ganha maior campo.
Vive-se hoje numa sociedade onde o ter é extremamente valorizado, impelindo consumismo exagerado. O grupo não deixa de exercer influência no comportamento do jovem, sendo esta pressão maior ou menor, conforme valores internalizados por ele. Muitos sucumbem à pressão recebida e por influência destes, abaixa a guarda e se permite viver perigosas experiências, como por exemplo, conhecer o mundo das substâncias químicas que alteram o funcionamento neuronal, tudo isso em busca do preenchimento do vácuo existente em si mesmos.
O consumo de drogas é um dos maiores problemas sociais e culturais do nosso tempo, não se pode olvidar desta verdade. E dentre os fatores que facilitam sua ligação estão as questões genéticas, familiar, de valores e crenças sociais. Lidar com conflitos e frustrações num período tão delicado como a adolescência é uma difícil tarefa a ser desempenhada.
Atualmente vários programas preventivos/educativos e comportamentais, surgem para ajudar a sociedade a compreender como lidar com esta problemática. Auxiliam também a família que já conhece esta dura realidade que é ter um ente em contato com o vício.
Conclui-se, portanto, que a família desempenha papel crucial como base da macro sociedade e dessa responsabilidade não pode se esquivar, para que não veja comprometida o seu próprio núcleo familiar. Influenciamos e somos influenciados a todo instante por nossas atitudes, ações ou omissões. Nossas ações precisam refletir maior equilíbrio, valorizando a ética e a moral no seio familiar para que seus membros vivencie tais valores porta à fora do lar que os acolhe.

Extraído em: Psicologado

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